O dízimo é um tema que frequentemente provoca discussões acaloradas, especialmente devido aos abusos e às interpretações errôneas que permeiam essa área. Muitas vezes, a tentativa de evitar confusões leva pastores a se esquivarem de abordar o assunto. No entanto, a questão do dízimo transcende a simples esfera financeira; trata-se de um tema espiritual de grande relevância.
Acreditamos que o dízimo é uma prática obrigatória para o cristão, estabelecida pelo próprio Deus e não uma invenção da igreja. No Antigo Testamento, o dízimo é claramente ordenado por Deus. A grande questão é se essa prática permanece vigente no Novo Testamento. Entendemos que sim, pois a lei moral continua a desempenhar um papel essencial na vida do crente. O cristão deve obedecer à lei moral como expressão de gratidão e busca de santificação.
O Dízimo no Antigo Testamento
No hebraico, o termo maser significa literalmente "a décima parte de um todo". No Antigo Testamento, o dízimo era uma parte dos produtos da terra entregue a Deus como ato de adoração. É importante distinguir entre dízimo e oferta no Antigo Testamento: enquanto o dízimo era recorrente e obrigatório, a oferta era voluntária e movida pela devoção.
A primeira menção bíblica do dízimo ocorre em Gênesis 14.20, quando Abraão entrega o dízimo a Melquisedeque. Esta prática antecede a lei mosaica, refutando a ideia de que o dízimo é exclusivamente parte da lei cerimonial, abolida com o Novo Testamento.
Hebreus 7.1-3 reforça a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque, que prefigura o sacerdócio eterno de Cristo. Portanto, ao dar o dízimo a Melquisedeque, Abraão o entregou a Cristo.
A segunda menção está em Gênesis 28.22, onde Jacó promete dar a Deus o dízimo de tudo que Ele lhe conceder. Novamente, vemos o dízimo como uma prática de gratidão e reconhecimento da provisão divina, anterior à lei mosaica.
A lei mosaica detalha a prática do dízimo em várias passagens: Levítico 27:30-34, Números 18:21-32, Deuteronômio 12:1-14 e 14:22-29. Essas passagens mostram que o dízimo era dado de tudo o que a terra produzia, destinado ao sustento dos levitas e sacerdotes, e deveria ser entregue no templo.
E a história de Israel mostra que a restauração dos dízimos era parte das reformas espirituais em épocas de avivamento, como nos reinados de Ezequias e Neemias (2Cr 31.10-11; Ne 13).
O Dízimo no Novo Testamento
Embora o Novo Testamento faça poucas menções diretas ao dízimo, isso não implica sua abolição. Jesus criticou os fariseus não por dizimar, mas por negligenciar a justiça e o amor de Deus enquanto dizimavam (Lucas 11.42). A parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18.9-14) também ressalta que o problema não é o dízimo, mas o orgulho ao praticá-lo.
Hebreus 7.5 reafirma que o dízimo transcende a lei mosaica, e outras passagens sugerem a necessidade de uma contribuição regular para o sustento dos ministros do evangelho (1Coríntios 9.13-14; 1Timóteo 5.17; 2Coríntios 8.3). A prática de uma contribuição proporcional nas igrejas primitivas sugere que o dízimo de 10% pode servir como referência.
A prática do dízimo continuou na igreja primitiva e na patrística. A Didaquê, um manual de discipulado da igreja primitiva, orientava a oferta das primícias aos profetas ou aos pobres. Pais da igreja como Crisóstomo, Jerônimo e Agostinho também defendiam o dízimo.
Conclusão: Praticando o Dízimo Hoje
As justificativas contra o dízimo geralmente se baseiam na percepção de que ele pertence à lei cerimonial, na falta de recursos financeiros ou na má administração e distribuição dos recursos pela igreja.
Quanto a isso, devemos refletir que, primeiro, o dízimo é anterior à lei cerimonial e permanece relevante no Novo Testamento. Segundo, o dízimo deve ser a primícia, separada antes de qualquer outra despesa (Provérbios 3.9). É necessário confiar que Deus suprirá as necessidades dos seus filhos (Mateus 6.18-32). Finalmente, o dízimo deve ser entregue fielmente à igreja local, conforme ordenado por Deus, e não de acordo com a percepção individual sobre a administração dos recursos. Cada um prestará contas diante de Deus pelo seu papel.
Portanto, o dízimo continua sendo uma prática espiritual e obrigatória, uma expressão de gratidão e reconhecimento da provisão divina, sustentando a obra de Deus na terra.